Só há um caminho para os Açores convergirem com a média da União Europeia. Temos que fazer mais, melhor e mais depressa do que as outras regiões com as quais nos comparamos. Temos dificuldades estruturais que importam ultrapassar que não se resolvem por decreto nem de um dia para o outro, mas tampouco serve limitarmo-nos a gerir a quotidiano, sem rasgo, ambição ou coragem para mudar.
Exigência e ambição
Não há mal algum em ter orgulho nas raízes, na nossa história e na nossa cultura. Pelo contrário. Mas, para além do ponto de partida, do comprazimento pelo percurso entretanto efetuado, é necessária coragem e ousadia política para parar para pensar se o modelo de desenvolvimento em que o regime autonómico se baseou nas últimas quase cinco décadas continua a ser o que, simultaneamente, melhor corresponde às necessidades e o que melhor responde aos desafios atuais e aos que o futuro trará.
Demografia
Não há volta a dar. Os resultados definitivos dos censos revelam que os Açores perderam mais de 4% da sua população. A dificuldade em fixar as gerações mais novas assim como de atrair investimento externo e recursos qualificados são um dos bloqueios que urge ultrapassar, sob pena de, para além da mão de obra, escassear gente nas ilhas e, assim, limitar ainda mais o futuro.
Acessibilidades e Transportes
Os transportes e as acessibilidades nos Açores representam um dos maiores desafios à competitividade e crescimento da nossa economia. Embora tenham sido feitos avanços significativos nas últimas décadas, como a liberalização das ligações aéreas e a modernização de portos, a verdade é que os açorianos continuam a enfrentar dificuldades no acesso rápido, frequente e comportável a bens, serviços e deslocações.
É urgente repensar e reforçar a política de mobilidade no arquipélago com uma visão a longo prazo. Garantir acessibilidades eficientes e justas é mais do que uma questão logística; é uma questão de coesão territorial e de equidade para com cidadãos que, apesar da distância geográfica, têm o direito de aceder às mesmas oportunidades que os demais portugueses. Como é que uma SATA em (opaca) privatização se enquadra nesse processo é pergunta a que o Governo Regional, enquanto acionista, a par da demonstração da capacidade operacional do putativo comprador, tem de responder antes de qualquer questão de preço.
Recursos Vs. necessidades
A autonomia política de que usufruímos, que tantos séculos custou a conquistar e que nos dá a capacidade de decidir por nós, só existe na exata medida em que sejamos capazes, também com solidariedade, de fazer face, do ponto de vista orçamental e financeiro, às necessidades e pretensões de desenvolvimento da Região. Hoje, é claro, este Governo desbaratou essa liberdade de decidir, com uma gestão desastrosa das finanças públicas. Os factos são indesmentíveis: estamos muito mais endividados e o PSD, o CDS e o PPM que, outrora, criticavam a dimensão dos anteriores governos, hoje engordam os gabinetes das Secretarias Regionais. Em quatro anos, as nomeações políticas passaram de 39 para mais do dobro (89).
Áreas Marinhas Protegidas
A criação de Áreas Marinhas Protegidas é um importante mecanismo de gestão, preservação e conservação da biodiversidade marinha. Os governos do PS nos Açores foram percursores na dinamização deste instrumento na Região. O PS apoiou também a extensão para os objetivos atuais de proteção de 30%. Mas sempre afirmamos que a sua implementação não pode ser feita menosprezando todos aqueles que fazem das Pescas a sua principal atividade económica e lutamos inclusive pela inscrição na legislação de um fundo compensatório de 10 milhões de euros, entretanto chumbado pela coligação. Hoje temos os objetivos, a reputação internacional, mas os pescadores continuam sem conhecer de forma séria e concreta como serão compensados. Os pescadores não vivem da reputação que a Região, entretanto, granjeou e não podem aqueles que, num dia, se mortificam pelo eventual abate de barcos da frota atuneira, no outro virar a cara quando o que está em causa são rendimentos e famílias.